
Promovendo resiliência e segurança financeira em terrenos frágeis
May 09, 2019
Por $name
Se você perguntar a agricultores como eles enxergam o futuro, as respostas normalmente não transbordam de otimismo.
Isto é verdade, em especial, para quem trabalha em terrenos pequenos — e por um bom motivo: ser um pequeno agricultor foi sempre uma ideia intimidadora. Além das longas horas e do trabalho físico pesado — e, muitas vezes, perigoso —, eles precisam superar diversos desafios e riscos para obter uma colheita lucrativa.
O financiamento de sementes, fertilizantes e equipamentos é, frequentemente, escasso. Os preços de mercado de suas safras na época da colheita podem ser voláteis e imprevisíveis. Além disto, há os caprichos do clima, sempre um tormento dos agricultores ao longo da história. E, hoje em dia, as mudanças climáticas estão gerando cada vez mais eventos extremos e incomuns que ameaçam causar devastação entre os pequenos agricultores. Chuva de menos ou demais, calor ou frio prolongado, tempestades de granizo, ventos fortes; todos esses fatores podem afetar uma colheita, deixando-a abaixo das expectativas ou tornando-a um fracasso completo.
Não é uma vida fácil.
Apesar disto, pequenos agricultores são parte significativa das economias nacionais pelo mundo e, com frequência, desempenham papéis vitais para apoiar as economias locais em seus respectivos países. Além disto, pelo fato do seu sustento depender da terra, a maioria dos pequenos agricultores a administram com competência.
Importância econômica da agricultura
Os desafios e riscos observados acima são ainda mais acentuados em pequenos agricultores na Nicarágua, um país com fragilidades política, econômica e ambiental. Com uma história turbulenta marcada pela instabilidade política e conflitos civis, a Nicarágua é o país mais pobre da América Central e o segundo mais pobre do Hemisfério Ocidental. E, além de terremotos — Manágua, a capital do país, foi destruída por um tremor enorme em 1972 —, a Nicarágua vivencia tempestades tropicais e estiagens prolongadas, condições extremas que estão se tornando mais comuns devido às mudanças climáticas.
A agricultura, em sua maior parte sendo feita em pequenas propriedades, tem importância significativa à economia da Nicarágua. Suas exportações de grãos — incluindo café, castanhas e bananas — atingiram US$ 850 milhões em 2017, representando quase 16% de todas as exportações do país. (Em comparação, grãos cultivados nos EUA e Canadá, sendo a maior parte produzida por grandes operações agrícolas industriais, somaram 5,1% e 5,8% das exportações totais, respectivamente.) Além disto, a produção agrícola tem crescido substancialmente na Nicarágua; apenas o valor das exportações de café, por exemplo, cresceu mais do que quatro vezes de 1995 a 2017.
Estimulando a resiliência local
A Incofin Investment Management é um investidor de impacto com histórico de investimentos em instituições financeiras e no setor agrícola em mercados emergentes. A empresa tem grande interesse em soluções que reforçam a resiliência de pequenos agricultores, especialmente em função dos riscos variados relacionados ao clima que ameaçam a produção agrícola e a subsistência rural em países frágeis como a Nicarágua.
Isto levou a Incofin, junto com a É«¶à¶àÊÓÆµ uma consultoria externa e a Iniser, uma seguradora local da Nicarágua, a desenvolverem um novo programa de seguro paramétrico para pequenos agricultores na Nicarágua. Lançado no ano passado, em colaboração com duas instituições de microfinanças (IMF) da Nicarágua, a Microcrédito e a Fundenuse, este programa ajuda a proteger 6.000 produtores de café e grãos, mais de 90% dos quais possuem menos de 10 hectares de terra. O esquema cobre tanto chuvas excessivas quanto secas prolongadas, e os pagamentos são ativados quando os dados de precipitação dos satélites registram valores que excedem ou ficam abaixo dos limites pré-estabelecidos de chuva específicos para a safra e a região.
A equipe de desenvolvimento deste programa tinha dois objetivos abrangentes que foram reforçados pelo regulador bancário da Nicarágua. O primeiro foi limitar o potencial para o risco de base, e o segundo foi garantir que os pequenos agricultores se beneficiem diretamente de quaisquer pagamentos. A solução: subdividir o país em 20 zonas com índices separados para cada zona e aplicar um protocolo de distribuição que foca em pagamentos para os mais afetados por chuvas excessivas ou secas prolongadas.
Minimizando o risco de base
O risco de base se refere à possibilidade que um índice não reflita de forma precisa a situação real em terra; ele pode ser positivo ou negativo. Por exemplo, condições de estiagem podem afetar alguns agricultores, embora os dados de precipitação não mostrem que ocorreu uma seca. Ou o oposto: pagamentos podem ser feitos a agricultores que, contudo, tiveram colheitas razoáveis.
O risco de base é ampliado em lugares como a Nicarágua, que contém vários microclimas diferentes e onde os agricultores plantam diversos grãos. Na Nicarágua, por exemplo, o café é cultivado em distritos montanhosos que são frios e úmidos, enquanto o plantio de grãos ocupa áreas costeiras mais quentes e secas. Um único índice para todo o país — ou até mesmo quatro ou cinco índices cobrindo regiões diferentes — poderia ter levado a um risco de base considerável.
Neste caso, o risco de base foi minimizado ao dividir o país em vinte unidades com base em sua geografia, condições climáticas e safras similares. Embora isso se traduza na criação de modelos separados para cada zona, os valores do índice derivados destes modelos individuais são altamente correlacionados com resultados específicos nestas áreas menores e mais homogêneas.
Pagamentos específicos
Neste esquema, quaisquer pagamentos vão para as IMF; elas agem como seguradas e agregadores de risco e usam os fundos para reestruturar empréstimos aos agricultores afetados pelo evento específico.
Após um pagamento ser acionado, as IMF primeiro analisam as carteiras de empréstimo para a(s) área(s) afetada(s) para identificar os empréstimos com maior risco de inadimplência. O próximo passo importante é inspecionar a situação no terreno para determinar onde e como os pagamentos podem melhor ajudar os agricultores com maior necessidade; esta abordagem também ajuda a reduzir o risco de base.
Com base nestas avaliações, as IMF usam os pagamentos para conceder períodos de tolerância, fornecer isenções do pagamento de juros por períodos específicos ou estender os termos dos empréstimos. Independentemente das modificações que são feitas, os agricultores que, de outra forma, seriam forçados a vender bens de capital para satisfazer seus credores — se não abandonar a agricultura completamente — agora têm os recursos financeiros que precisam para plantar novas safras.
Garantir que os pagamentos tenham impactos sociais demonstráveis e mensuráveis foi uma demanda central dos reguladores. Na verdade, sempre que os pagamentos são feitos, as IMF são obrigadas a registrar relatórios com os reguladores detalhando quais empréstimos foram reestruturados e como. Elas também precisam fornecer detalhes sobre, por exemplo, o número de beneficiários que cultivam em menos de dois hectares, quem aluga em vez de possuir o terreno e quais são mulheres.
Não apenas para catástrofes
Como tantas vezes acontece ao projetar programas paramétricos, outra consideração crítica foi onde definir os níveis de limite — o ponto em que os pagamentos são acionados — para cada zona. Níveis de limite inferiores fornecem proteção para eventos mais frequentes e, normalmente, são mais caros. Por outro lado, limites superiores protegem contra ameaças menos comuns e, normalmente, são relativamente menos custosos.
Após longas discussões com as IMF e uma pesquisa com três mil pequenos agricultores, nós definimos os níveis de limite tanto para excesso de chuva quanto para eventos de estiagem para cobrir catástrofes e também o que caracterizamos como eventos de magnitude média. Para precipitação excessiva, os pagamentos são acionados até mesmo quando o total de chuvas está em cerca de 50% acima da média; para secas, eles são feitos quando a falta de chuva está apenas um pouco abaixo dos valores médios.
Basear os limites em eventos de magnitude média mais frequentes — mas ainda destrutivos — provou ser bastante eficaz para fomentar maior resiliência e estabilidade em partes rurais da Nicarágua (o seguro já gerou dois pagamentos, um para seca prolongada e outro para chuvas excessivas). A análise histórica indica que o desempenho de uma carteira não protegida não vai, necessariamente, deteriorar de forma acentuada após eventos climáticos prejudiciais — mas não catastróficos. Isto ocorre porque diversos agricultores evitam a inadimplência de seus empréstimos ao vender bens de capital ou tomando outros empréstimos. A desvantagem é que o impacto do próximo evento prejudicial é ampliado porque os agricultores estão em situação mais precária devido às ramificações do último.
Uma das perguntas a serem ainda respondidas sobre programas deste tipo é qual efeito ele poderia ter para aumentar a confiança entre as IMF para investir no complicado setor agrícola. Um problema relacionado é se a maior proteção que as coberturas com base paramétrica entregam ajudará a atrair investimento privado adicional em áreas que são agora economicamente mais estáveis e seguras.
Embora o tempo dirá, o histórico sugere que um país é mais provável a entrar em declínio se pequenos agricultores com recursos financeiros limitados não são protegidos de condições climáticas extremas. Por outro lado, programas paramétricos como o descrito aqui — assim se espera — vão criar e nutrir um crescimento econômico e estabilidade cada vez maiores: um resultado certamente positivo para uma país frágil como a Nicarágua.
Finalmente, após a aquisição da XL por parte da AXA, a equipe da É«¶à¶àÊÓÆµpode agora impulsionar as capacidades e especialidades da AXA Global Parametrics para desenvolver soluções paramétricas para governos, investidores privados, ONGs e corporações que ajudam a ampliar a resiliência de países em todo o mundo.
Sobre os autores:
Viktoria Popova é Gerente de Assistência Técnica na Incofin. Ela é responsável pela carteira global de projetos que objetivam reforçar as capacidades das empresas da carteira da Incofin para melhorar o bem-estar de empreendedores rurais e pequenos agricultores em mercados emergentes. Através da prestação de assistência técnica, a Incofin ajuda a maximizar o potencial de seus investimentos para gerar o impacto social e promover um progresso inclusivo.
Niklaus Lehmann é Subscritor de Agricultura Sênior na operação de Resseguro Internacional da AXA XL. Nik possui Ph.D em modelagem de safra pela ETH Zurich e sempre está aberto para discutir novas soluções de seguro para proteger a produção agrícola. Entre em contato com ele pelo e-mail Niklaus.Lehmann@axaxl.com.
Sobre a Incofin IM
gerencia fundos de investimento de impacto e é uma líder global em finanças agrícolas e rurais. Ela é uma gestora de fundos com licença AIFM, aconselhando e gerenciando US$ 1 bilhão em ativos. Sediada na Bélgica, ela tem uma rede de quatro representações e escritórios regionais e uma equipe com 50 membros experientes com conhecimento profundo de finanças rurais e investimentos privados (private equity).
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Fontes (Somente referência jurídica):
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